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O cimento romano do (reverendo) Parker


Agostinho, Jerônimo, Ambrósio de Milão, Gregório Magno, João Crisóstomo, Atanásio, Basílio. Boa parte destes personagens, volta e meia, são citados aqui no site. Eles, especificamente, estão representados na fachada sul da Catedral de Lichfield, que pertence a Igreja Alta da Inglaterra, como podemos ver na foto. A catedral começou a ser construída no século XII e foi concluída no século XIV, e o material utilizado na construção foi o cimento romano. Este material caiu em desuso com as construções modernas mas teve um interesse maior quando as obras de restauro foram requisitadas, principalmente na Era Vitoriana. Coube a um clérigo cristão, chamado James Parker, o desenvolvimento deste moderno cimento de restauro.

O século XVIII fora marcado pelo desenvolvimento da Inglaterra, por conta da Revolução Industrial, e coube ao pioneiro da moderna engenharia civil, John Smeaton, desenvolver uma mistura capaz de suportar as grandes estruturas das quais ele fez parte. Esta mistura consistia na utilização de cal hidráulica e de agregados, como seixos, no que seria chamado de primeiro concreto moderno.

Entre o concreto de Smeaton e o cimento moderno, o Portland, que foi patenteado por Joseph Aspdin em 1824, ouve uma fomentação (ou talvez uma corrida) pela criação de um material nobre, que servisse como um aglomerante eficiente.

James Parker era vigário em Northfleet, em Kent. Ele descobriu um cimento diferente, baseado em rochas encontradas em Essex e Kent, chamadas "septárias" (nódulos de argilas que possuíam calcário em sua composição), calcinando-as de forma praticamente acidental.

Em 1796, registrou a patente para o seguinte material: Cement or Terras to be used in Aquatic and other Buildings and Stucco Work (Cimento ou Terras para uso em edifícios aquáticos e outros e trabalhos em estuque). A descrição da forma de produção é descrita no documento da patente:
"As pedras de barro ou nódulos de barro são primeiro quebrados em pequenos fragmentos e depois queimados em um forno ou forno (como a cal é geralmente queimada) com um calor quase suficiente para vitrificá-los, depois reduzidos a pó por qualquer operação mecânica ou outra, e o pó assim obtido é a base do cimento."
Este material ficou conhecido como cimento romano, ou também como "cimento romano de Parker" (ele próprio atribuiu este nome, por se parecer com o utilizado em Roma nos primeiros séculos). Ainda que as patentes durassem apenas 14 anos, o material era de tamanha qualidade que seu nome perdurou até que o cimento Portland tomasse seu lugar, provavelmente na metade do século XIX, mas ainda existiam fábricas de cimento romano até meados de 1890 (não há certeza sobre a motivação do seu desuso, pois: o cimento Portland sofreu muito até baratear seu modo de produção, tendo uma melhoria na década de 1880, com os fornos rotativos de processo contínuo, e; o cimento romano de Parker ficou atrelado ao estilo de construção vitoriano, principalmente nas fachadas, e o Portland, que de fato era mais resistente, como concluiu Brunel em 1828, teria sua utilização posteriormente atrelado às estruturas).

Atualmente, o cimento romano é conhecido como equivalente exterior do gesso, pois oferece a mesma velocidade de endurecimento e manipulação que o gesso, mas que pode suportar as condições externas de maneira muito eficaz.

Pouco se sabe sobre Parker - é complicado achar quando nasceu e morreu, tão pouco sobre sua vida como clérigo além da invenção. Mas sua importância no desenvolvimento moderno é reconhecido não só pela ciência mas pela história.

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Fontes consultadas:

James Parker. Especificação de cimento para fins de construção. 1796. Patente nº: 2120. Dispomível em Cement Kilns.

Juan das Cuevas Toraya. A Era do Cimento. 1999. Disponível em Vitruvius.

Lance Day, Ian McNeil. Biographical Dictionary of the History of Technology. Routledge, Londres, 1996.

Maria Bostenaru-Dan, Richard Pøikryl, Akos Török. Materials, Technologies and Practice in Historic Heritage Structures. Springer, 2010.

Nature, 143. A História do Cimento. 1939. Disponível em Nature.

Peter Domone, John Illston. Construction Materials: Their Nature and Behaviour. Spon Press, Londres, 2010.

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