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Joker (Coringa)

Sei que já existem ao menos 300.000 resenhas sobre o filme Joker (Coringa). Por isso vou tentar ser um pouco direto. Na verdade, o que me motivou a escrever tem relação com uma comparação feita na internet, que relaciona um pouco do que acontece no filme com o livro Demônios, de Dostoiévski (que fiz uma resenha recentemente aqui). Além disso, já vi algumas resenhas relacionando também com Taxi Driver, filme de Scorsese (confesso que a primeira vez que vi esse filme não tinha tanta maturidade para o relacionar com nada, até acabar de ler Memórias do Subsolo, do mesmo Dostoiévski, que farei uma resenha mais tarde e que sem dúvida inspirou Scorcese). Acho que a comparação tem a ver com o desenrolar que Arthur Fleck, o vulgo "coringa", que mistura um pouco de algumas ideias resultantes do niilismo prático.

No filme, o protagonista, interpretado por Joaquin Phoenix, é um palhaço que, não bastasse seu fracasso como garoto propaganda de ruas, ainda carrega um problema psicológico que o faz rir em momentos desapropriados. Ele apanha de arruaceiros, depois recebe uma arma de um colega de trabalho para defender-se, esta mesma arma o faz ser demitido, e, por fim, mata outros arruaceiros (estes, do alto escalão de Gotham). Thomas Wayne, pai milionário do futuro Batman, promete limpar a cidade destes "palhaços" que invejam os ricos (tomando a referência de que sabiam que era alguém fantasiado de palhaço o assassino). Depois disso, muitos vão as ruas vestidos de palhaços para protestar. Fleck, em meio a suas próprias paranoias, descobre sua mãe mentia e que Wayne é seu pai, e depois que ele na verdade não o era, e sua mãe é que era paranoica. Ele a mata, mata um de seus colegas que julgava mau (e poupa um que julgava bom), e, por fim, mata ao vivo o apresentador de um programa (Robert De Niro) que o tinha ridicularizado anteriormente.

Ao longo de tudo isso, é perceptível que o Coringa é uma pessoa problemática, mas que vai tentando entender sua situação versus tentando entender o que o mundo espera dele. Sua incapacidade para ser o que quer lhe dá munição para ser o que lhe dá prazer: o propagador do caos.

O filme recebeu diversas críticas negativas no início. Havia uma certa preocupação com o excesso de violência contido no filme, por conta do que ocorreu após a exibição de The Dark Knight. Entretando, nada ocorreu. Segundo o diretor, era um excesso da extrema esquerda, que procurava ligar a violência com a questão do fácil acesso de armas. De fato, há um problema político relacionado ao filme: o Coringa, uma pessoa visivelmente desequilibrada, é o motor dos protestos contra os ricos de Gotham. Talvez aí more um pouco da relação com Os Demônios. Assim como o Coringa, Piotr Stiepanovitch é um desequilibrado prático que fora criado e moldado pelo desequilíbrio dos pais (ou melhor, assim como Joker, sem os pais). A falta de família e de um "sistema que ataque as injustiças sociais" faz com que Piotr opte pelo socialismo prático, e acaba se tornando um criminoso sem escrúpulos. A diferença é que, para Piotr, a desgraça tem um bem maior: a implantação do socialismo. Para Joker, um degrau acima da alienação, é o seu oxigênio, a explicação para seu problema psiquiátrico e para suas risadas em momentos inoportunos.

Ou seja: a loucura e a insanidade é um motor parecido nos dois casos. Não acho, pelo que pude observar comparando com crítica de cristãos, que o Coringa é o mocinho desse filme. Não consegui ver ali uma justificativa de que, pelo bem moral do próprio personagem, ele se viu na obrigação de matar quem fizesse pouco dele. Acho que serve de alerta para que, seja o Estado (que negligenciou os remédios do doente) ou a própria sociedade, e eu me encaixo nisso, trate com mais amor o próximo. Mentes perturbadas podem ver no filme um motivo para rebelar-se violentamente contra o sistema. Pois bem, o filme é sobre esse exercício.

O que acontece se uma pessoa dessas tem o poder? Essa é a visão que posso relacionar com Os Demônios. Não é proibido existir pessoas esquizofrênicas. Elas devem ser tratadas. O que não se deve é dar poder a elas, sob pena de sofrermos com massacres isolados, tais como o Coringa fez, ou sob pena de 100 milhões de almas sofrerem, como o que o socialismo fez.

O filme é bom, não espere um filme de super-herói. Às vezes, é bom saber o que pensam os vilões.


Paulo Matheus

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